O sul-mato-grossense de 18 anos Luiz Fernando da Silva Borges foi um dos destaques naIntel International Science and Engineering Fair (Intel Insef). O garoto participou pela terceira vez da feira, uma das mais respeitadas nas áreas de ciência e tecnologia, que destaca trabalhos desenvolvidos por jovens antes de ingressarem no ensino superior.
O seu projeto, chamado de Hermes Braindeck, foi criado para ajudar na comunicação de pacientes em coma ou estado vegetativo. Segundo Borges, algumas pessoas não são capazes de movimentar nem os olhos, mas estão conscientes.
“Para tentar contornar esse problema, propus que criássemos um dispositivo portátil capaz de detectar se a pessoa consegue responder a comando apenas usando seus pensamentos”, conta à GALILEU o aluno do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul.
Além disso, o programa de computador consegue guiar os pensamentos da pessoa para que sejam convertidos em palavras, sem o uso da visão. Isso seria muito útil, já que pacientes comatosos e vegetativos não conseguem mover os olhos. “Todo o treinamento do programa para reconhecer estes pensamentos é feito automaticamente, e até mesmo a voz dos familiares do paciente pode ser usada no programa”, relata Borges.
O equipamento cabe numa maleta, e seus primeiros testes serão realizados na Santa Casa de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul. As negociações também já começaram no renomadoHospital Albert Einstein, em São Paulo.
Para o garoto, a principal consequência de seu trabalho é o debate ético que será gerado, já que pacientes poderão decidir se preferem viver ou morrer (em países em que a eutanásia é permitida) ou até testemunhar em casos. “Questões éticas dignas de obras de ficção científica virão à tona pois, pela primeira vez, pessoas acreditadas inconscientes serão capazes de se comunicar com o mundo exterior respondendo perguntas e soletrando palavras.”
Essa foi a terceira vez que Borges participou da Intel Insef. Em 2016, levou o Brasil à primeira vitória na categoria de engenharia biomédica e, como um dos prêmios, batizou um asteroide com seu nome, o 33503 Dasilvaborges. “Ao desenvolver pesquisas, sempre mantenho uma mentalidade direcionada ao desenvolvimento de tecnologias que tenham relevância e aplicabilidade mundial. Com certeza esta é uma das características que me levaram a participar do evento”, conta.
Além do de Borges, mais 20 projetos brasileiros participaram da feira. Saíram vencedores também dois projetos nas categorias de ciências das plantas (de Maria Eduarda de Almeida, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul) e engenharia ambiental (de Juliana Davoglio Estradioto, da mesma instituição).
Inspiração
O sul-mato-grossense conta que sempre se interessou pela área médica, mas depois de entrar em um curso técnico de informática percebeu que muitas ferramentas da robótica poderiam ser empregadas para soluções de problemas da área.
“Foi então que, na metade de 2013, conheci o campo das interfaces cérebro-máquina, um conjunto de métodos de como podemos extrair sinais elétricos do cérebro, enviá-los para umprograma de computador que os decodifica e os transforma em movimentos”, conta.
Como ídolo, Borges cita o cientista brasileiro Miguel Nicolelis, que usou a tecnologia para fazer com que um paciente paralisado desse o primeiro chute da Copa do Mundo de 2014. Sua inspiração também vem da história da sua bisavó, que ficou um mês em coma antes de falecer: “Minha tia disse que, durante as visitas no hospital, conseguia perceber que ela chorava quando ouvia sua voz”.
Métodos ultrapassados
Para o jovem criador, um grande problema da área é a ferramenta dos anos 1970 que mede o nível de consciência de pessoas que sofreram algum tipo de injúria cerebral. Segundo ele, a escala conta apenas com avaliações dos atributos motores dos pacientes, o que é um erro, uma vez que já é sabido que muitas pessoas em coma ou em estado vegetativo são capazes de ouvir e compreender instruções, mas não conseguem mover os músculos.
Além disso, Borges afirma que a forma com que as pesquisas brasileiras são avaliadas é retrógrada.“O fato de eu ter feito grande parte da pesquisa com 17 e 18 anos é o primeiro problema para a academia brasileira, baseada em um sistema de castas que pontua cientistas pelo volume de suas publicações científicas, e não de sua qualidade. Isto explica o baixo impacto que certos setores da academia brasileira têm no cenário mundial de produtividade”, opina.
[ Fonte: Galileu ]